sexta-feira, 18 de maio de 2018

A solução sedevacantista e suas rivais


Padre Hugon O.P. disse sobre a famosa controvérsia entre tomismo vs. molinismo: “Cada sistema está sujeito a dificuldades; de fato, a exclusão do mistério nesta matéria seria sinal de erro”. Ele então assinala que a obscuridade do tomismo não surge de seus princípios, mas antes da fraqueza do intelecto humano em compreender como certos princípios são reconciliados em Deus.
O molinismo, por outro lado, sofre por uma exceção feita aos princípios teológicos mais certos e universais da causalidade divina e acaba colocando passividade em Deus. Assim, a obscuridade do molinismo surge de sua inabilidade de reconciliar Deus com a passividade, que são duas noções absolutamente contraditórias, ao passo que a obscuridade do tomismo surge da reconciliação em Deus de princípios que são absolutamente certos. O tomismo, portanto, deixa-o com um mistério em aberto, mas o molinismo deixa-o com uma contradição.
Da mesma forma, a posição sedevacantista afirma todos os princípios propriamente, mas permanece obscura porque ela não pode oferecer a reconciliação final dos mesmos. Em outras palavras, enquanto o sedevacantismo mantém todos os elementos da indefectibilidade da Igreja, ele carece de explicação sobre o mistério da iniquidade do Novus Ordo, isto é, como a prolongada vacância da Sé Apostólica no fim servirá para a glória de Deus e como a Igreja um dia superará esse terrível problema. Mas, afirmando que a Sé Apostólica está vacante, o sedevacantismo não afirmará coisas contraditórias: (1) que a religião Novus Ordo e a fé católica são a mesma coisa – solução Ecclesia Dei; ou (2) que a Igreja Católica promulgou doutrinas, ritos e disciplinas contrárias à fé e nocivas às almas (solução lefebvrista).
O ponto de partida do sedevacantista é que há diferença substancial entre o Novus Ordo e a fé católica. Esta diferença é mais evidente na contradição quase palavra por palavra entre a *Dignitatis Humanae e a Quanta Cura, mas também é manifesta a todos na Missa Nova e novos sacramentos, no Código de Direito Canônico de 1983, nas novas disciplinas, nos novos catecismos, no novo Magistério Ordinário Universal. Essas duas religiões são incompatíveis e não podem coexistir na mesma Igreja. Mas se o Novus Ordo é substancialmente diferente da fé católica, logo ele não pode ser católico . Mas se ele não é católico, então é impossível que ele seja promulgado pela autoridade da Igreja, pois a autoridade da Igreja não pode errar em tais matérias de doutrina, culto e disciplina. Portanto, é impossível que aqueles que promulgaram o Novus Ordo tenham a autoridade da Igreja Católica . Logo, é impossível que Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II etc. sejam papas.
Os princípios que levaram a tal conclusão são absolutamente certos. Eles estão apoiados ou na filosofia ou na doutrina da Igreja. Eles são imbatíveis e conduzem logicamente à conclusão. Neste sistema, a indefectibilidade da Igreja está a salvo, pois ele rejeita associar a Imaculada Esposa de Cristo com esta abominação do modernismo, que é obra do demônio.
Mas onde está a Igreja visível? Ela está naqueles que publicamente professam a fé católica e que ao mesmo tempo esperam ansiosamente pela eleição de um Romano Pontífice. O que dizer sobre os bispos? Este sistema não despoja necessariamente todos os bispos de sua autoridade, mas somente aqueles que aderem publicamente a essa nova religião. Mas ainda que assim o fizesse, o sedevacantismo não alteraria a natureza da Igreja Católica, antes deixaria por conta da Providência Divina a restauração da ordem. Os outros sistemas, por outro lado, que temem apartar-se da hierarquia modernista por sua inabilidade de ver uma solução sem ela, na verdade combinam a religião católica com a apostasia do modernismo, que são duas coisas absolutamente incompatíveis, assim como Deus é incompatível com o demônio. Por isso esses sistemas que reconhecem os “papas conciliares” não podem estar certos. O sedevacantismo pode o levar ao mistério, mas ele não o levará à contradição.
SANBORN, Mons. Donald J. Resistance and Indefectibility, 1991, p. 10-11.

Fonte: https://controversiacatolica.com/2018/05/15/a-solucao-sedevacantista-e-suas-rivais/

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